Os hackers originais eram apenas estudantes, programadores e designers de sistemas, entusiastas de uma nova subcultura que originalmente surgiu na década de 1960 em torno do Tech Model Railroad Club (TMRC) do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Os membros deste grupo de modelismo de comboios "hackeavam" os seus trens eléctricos, linhas e ligações de modo a fazê-los andar mais rápido e de forma diferente. Um hack era apenas uma solução elegante ou inspirada para um dado problema.
Mais tarde, alguns dos membros do TMRC transferiram a sua curiosidade e habilidades para os novos sistemas mainframe que estavam a ser estudados e desenvolvidos no campus. Nesta altura, o MIT contratou alguns craques para fazerem pesquisa na área da inteligência artificial e computadores. Foram eles que criaram os modelos para a máquina onde vocês estão agora e foram verdadeiramente os primeiros programadores e engenheiros no campo das TI.
Este novo Laboratório de Inteligência Artificial, com seus enormes computadores mainframe, tornou-se o centro de estágio para os primeiros hackers de computadores que surgem assim no MIT. A princípio, "hacker" era um termo positivo para uma pessoa com um domínio dos computadores que poderia impulsionar os programas e os sistemas para além do que eles foram inicialmente projectados para fazer. Para esses pioneiros, um hack era uma façanha de programação e essas actividades eram muito admiradas no sentido em que combinavam conhecimento especializado com um instinto criativo.
Estes primeiros hackers eram entusiastas da programação, especialistas primariamente interessados em modificar programas para optimizar o seu desempenho, adaptá-los para tarefas específicas ou simplesmente pelo gozo de descobrir como funcionavam. Frequentemente, as suas modificações eram ainda mais elegantes que os programas originais que substituíam ou contornavam. Na verdade, o mais elegante e persistente destes hacks é o sistema operativo UNIX, desenvolvido no fim dos anos 60 por Dennis Ritchie e Keith Thompson dos Bell Labs.
Marcos Históricos:
1947
A Tenente Grace Murray Hopper descobre uma borboleta nocturna presa entre os relés num computador da Marinha, o Mark II Aiken Relay Calculator. Ela chama-lhe um "bug", e os operadores afixam a borboleta o registo do computador, com a entrada: "Primeiro caso real de bug encontrado". Mais tarde, Grace Hopper difundiu informação declarando que eles tinham “debugged” a máquina, introduzindo assim o termo "debugging” aplicado a sistemas ou programas de computador.
1948
Norbert Wiener publicou "Cybernetics," que viria a ser uma grande influência sobre a pesquisa em inteligência artificial e criou o termo "cibernética" do vocábulo grego que significa "conduzir" ou "navegar".
1949
O cientista húngaro-americano John von Neumann formula a teoria dos programas auto-replicantes, fornecendo a base teórica para computadores que armazenam informações na sua "memória".
1953
A IBM lança o seu primeiro computador electrónico, o 701. Durante três anos de produção, a IBM vende 19 máquinas para laboratórios de pesquisa, companhias aeronáuticas e governo federal.
1954
Em Novembro, o Bell System Technical Journal publica um artigo em que é descrito o sistema de sinalização R1, em utilização na altura, e o processo utilizado para o encaminhamento de chamadas telefónicas através de linhas entre centrais. Este foi o primeiro passo de um erro muito grave, mas a informação não pôde ser utilizado, porque as frequências utilizadas para o Multi-Frequency (MF) não foram publicadas neste artigo.
1956
Pesquisadores do MIT constroem o TX-0, o primeiro computador de uso geral, programável construído com transístores. Para fácil substituição, os projectistas colocam cada circuito transistorizado dentro de uma "garrafa", semelhante a um tubo de vácuo.
1957
A URSS lança o Sputnik, o primeiro satélite artificial. Em resposta, os EUA criam a Advanced Research Projects Agency (ARPA) dentro dos Department of Defense (DoD) para recuperar a liderança científica e tecnológica aplicável para fins militares.
No final dos anos 50, a AT & T começou a mudar suas redes de telefonia com a implantação de comutadores (switches) totalmente automáticos que usavam tons de frequência específicos para a comunicação entre eles. Um desses tons de uso interno era um tom de 2600 Hz que fazia o comutador da central telefónica pensar que a chamada tinha terminado, deixando assim uma linha aberta, que podia ser explorada para fornecer gratuitamente chamadas de longa distância e internacionais.
Por volta de 1957, Josef Engressia, uma criança cega de sete anos de idade com afinação perfeita e fixação emocional em telefones, descobriu acidentalmente que assobiando em certas frequências podia activar os comutadores telefónicos. Josef gostava do sistema telefónico e, sendo uma criança curiosa, ligava para chamadas gravadas em todo o mundo porque era gratuito e era um bom passatempo.
Um dia, estava a ouvir uma mensagem e a assobiar. Quando assobiou uma determinada nota, a mensagem desligou-se. Joe tentou com outros números e a mesma nota e descobriu que conseguia desligar qualquer mensagem gravada. Sem saber o que tinha feito, Josef ligou para a companhia telefónica e quis saber o que estava a acontecer. Não entendeu a resposta que lhe deram mas, pouco depois, aprendeu a assobiar o tom de 2600 Hz que interrompia as chamadas telefónicas de longa distância e lhe permitia fazer uma chamada de longa distância gratuita para qualquer parte do mundo.
1959
Os mainframes da série 7000 são os primeiros computadores transistorizados da IBM. Como topo de gama desta linha de computadores - que surge significativamente mais rápida e mais fiável que as máquinas de tubo de vácuo – está o 7030, também conhecido como Stretch.
1960
A AT&T apresenta o seu Dataphone, o primeiro modem comercial, especificamente destinado à conversão de dados de computadores digitais para sinais analógicos para transmissão através de uma rede de longa distância.
O erro anterior da Bell é concluído quando um outro artigo intitulado "Sistemas de Sinalização para o Controle de Comutação Telefónica" ("Signaling Systems for Control of Telephone Switching") é publicado, desta vez contendo as frequências usadas para os dígitos que eram usados para os códigos reais de encaminhamento. Agora, com esses dois pedaços preciosos de informação, o sistema de telefone é colocado à disposição de qualquer pessoa com um conhecimento superficial da electrónica.
Quando a companhia de conta do que tinha feito, já era tarde demais e as informações já tinham sido divulgados. O erro é agora irreversível; os phreaks aprendem o MF e começam a usar tudo, desde as suas bocas a órgãos, para phrekear chamadas.
O termo "hacker" é usado por entusiastas do MIT que manipulam os seus modelos de comboio para mudar a forma como eles funcionam. Mais tarde, esses mesmos entusiastas surgem como os primeiros hackers de computadores.
O termo "cyborg" é criado por Manfred Clynes.
1963
Um grupo de programadores desenvolve o American Standard Code for Information Interchange (ASCII), uma linguagem de computador simples que permite que máquinas produzidas por diferentes fabricantes troquem dados entre si.
O Projeto MAC (Project on Mathematics and Computation, também conhecido como Multiple Access Computer, Machine Aided Cognitions, or Man and Computer) é lançado pela Advanced Research Projects Agency (ARPA).
1964
A AT&T começa a monitorizar as chamadas telefónicas num esforço para descobrir as identidades dos phone freaks (malucos do telefone), ou "phreakers", que usam geradores de tom (conhecidos como blue boxes) para fazer chamadas telefónicas gratuitas.
O processamento de transacções online faz sua estreia no sistema de reservas SABRE da IBM sistema, criado para a American Airlines. Utilizando as linhas telefónicas, o SABRE liga 2.000 terminais em 65 cidades a um par de computadores IBM 7090, fornecendo dados sobre qualquer voo em menos de três segundos.
1965
William D. Mathews do MIT descobre uma falha num Multics CTSS a correr num IBM 7094 que revela o conteúdo do ficheiros de passwords e é provavelmente a primeira vulnerabilidade relatada num sistema de computador.
1969
John T. Draper, um técnico da Força Aérea retirado, estava às voltas no seu carro para testar um transmissor de rádio pirata que tinha construído, quando transmitiu um número de telefone para que os ouvintes lhe dessem feedback para avaliar a qualidade da recepção da sua estação.
Uma chamada de um tal "Denny" resulta numa reunião com um grupo de malucos do telefone, a maioria deles cegos. Interessados nas suas habilidades electrónicas, eles queriam construir um gerador de tons multifrequência para facilitar a entrada no sistema da AT & T, que era controlado por tons. Um dos meninos cegos é Josef Engressia que já tinha identificado as frequências exactas.
Eles informaram-no que um apito de brincar, incluído como um presente nas caixas do cereal matinal Cap'n Crunch, gerava um som de 2600 Hz quando um dos dois furos do assobio era coberto. Esta era a frequência utilizada nas linhas de longa distância da AT & T para desligar uma extremidade da linha, permitindo que o lado ainda ligado entrasse em modo de operador.
As experiências com este apito inspiraram Draper para construir dispositivos electrónicos capazes de reproduzir outros tons usados pela companhia telefónica.
Foi o nascimento das mundialmente famosas blue boxes e do Captain Crunch, o phreaker pioneiro cujo apelido derivou de um apito de plástico.
Programadores dos Bell Laboratories da AT & T desenvolvem o sistema operativo UNIX, o primeiro sistema operativo multitarefa.
A ARPA atribui o contrato da ARPANET à BBN Technologies. A companhia escolhe um computador Honeywell DDP-516 com 24 kB de memória expansível como base para a construção do comutador.
A rede física liga 4 nós: Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), SRI (em Stanford), Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e a Universidade do Utah. Estes nós são ligados por meio de circuitos a 50 kbps criando uma rede inicialmente utilizada por grupos governamentais de pesquisa e universidades, precursora da Internet
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